Abriu os olhos mais uma vez, assustada. Respirava ofegante, o som de suas palavras havia cessado. Os olhos cintilantes, lacrimejantes, desaparecido. Naquele momento era preenchida completamente por fé. Todo o seu ser havia se agarrado a pequenas e desajeitadas orações. Tudo o que desejava era salvá-la. Tentava transmitir aquela fé, aquela força. Por eternos segundos acreditou que sua pobre existência poderia servir a esse propósito, que aquela fé poderia, quem sabe, mantê-la ali, respirando. Talvez a pureza de seu desejo, a inocência em seu pensamento fizessem com que alguém, lá em cima, atendesse a seu pedido. Fechou os olhos mais uma vez, apertou as pálpebras, franziu a testa. Chorou. Chorou porque nada podia fazer. Chorou porque era tudo o que queria fazer naquele momento. Chorou como em poucas vezes na vida, sinceramente. Sangrou, de dentro para fora. Então, sentia aquilo pela primeira vez. Isso é perder alguém, pensou, isso é perder alguém para sempre. Suas lágrimas escorreram desajeitadas pela face fazendo a luz fraca refletir. Ela sentiu um gosto amargo na boca, frio, sufocante. Quis gritar. Sua voz não saía, pôde apenas sofrer intimamente, como nunca antes na vida. Canalizou todas as forças que lhe restavam a essa altura e transformou-as em esperança. Nem tudo está acabado, insistia em sua mente, talvez ela esteja bem, talvez ela volte um dia. Mas quando por segundos sua esperança fraquejava, asfixiava-se lentamente naquela dor. Não conseguia traduzir nem para si própria o quão injusto aquele súbito fim seria. Seria, repetiu milhares de vezes para aumentar a esperança dentro de si. Elevou seus pensamentos, inspirou profundamente e direcionou todos os seus melhores sentimentos para ela. Salve-a, era tudo o que podia pedir sabe-se lá para quem. Pediu a Anjos, Santos, Querubins, a Ele. Ajoelhou-se, mal podia enxergar o que estava a um palmo frente a seus olhos, parou de lutar, deixou seu corpo atingir violentamente o chão. Os olhos sem direção, embargados com lágrimas intermináveis. Rezou. Raios de esperança se espalharam, iluminando um pouco mais a vida. Ela não sabia, é claro, que sua pobre existência servira a um propósito naquela oração. Eles a ouviam. Todos, naquele instante, sentiram um pouco de sua alma tristonha implorando pela vida de outro alguém. Tudo o que ela aspirava era pelo bem irrestrito à outra pessoa. E o que foi desencadeado através de todas essas orações? Ela e todos os outros que choravam pela chama que estava a se apagar despertaram um milagre. A chama, como em um sopro, turvou-se, enfraqueceu e pouco depois... Ressurgiu. Ela vai viver, disseram. Seus olhos inchados, mal podiam ser mantidos abertos, e ela estava completamente aliviada. A dor havia desaparecido. Havia receio, é verdade, mas ela se permitiu acreditar. Agradeceu ao vento, a seus anjos, a seu Deus. Despertou e a primeira coisa que se permitiu fazer foi sorrir um sorriso cansado, desajeitado, mas de valor incomparável. Então, isso é um milagre, um renascer. Suas mãos levantaram-se em direção ao céu e embora ela enxergasse muito pouco, em meio ao escuro estrelado sobre sua cabeça, viu um feixe de luz. Luz branca, forte, instantânea. Não quis explicações, naquele momento contemplava o céu de uma forma nunca antes vista, observava-o como se pudesse vê-los. E podia. E sabia que, na verdade, eles também estavam vendo-a, com brilho nos olhos e uma gratidão imensa no coração. Ele era a luz. Fechou os olhos e agradeceu e, pela primeira vez em sua vida, esteve em paz.
À Lane, que sempre acreditou, toda a minha fé.