sábado, junho 13, 2015

Sobre rosas, formigas e objetivos.

Sei que desde muito pequena aquela roseira me deixava intrigada. É claro que com cinco anos incompletos eu não sabia exatamente o que queria observando a planta, e hoje sei que grande parte do que é visto na infância pode mudar seu mundo para sempre.
"Vovó, a sua planta vai morrer" - Eu sempre dizia quando chegava ao jardim improvisado da minha avó paterna. Dona Preta, era como os outros a chamavam. Não me lembro das respostas dela, ou se haviam respostas, mas acho que ela sempre sorria. 
Da minha avó eu quase não tenho lembranças. Não sei como eram suas feições, personalidade e também não lembro do timbre da sua voz. Igualmente, não sei se algum dia gritou comigo, não sei se eu corria pra ela quando estava com medo ou sozinha. Mas eu me lembro da roseira, que na época eu nem sabia que era uma roseira.
Era um caule amarronzado, quase sempre coberto de formigas e com raríssimas folhas, dispersas e quebradiças. Algumas vezes apareciam mais insetos, brancos, que tomavam conta da pobre planta até você não conseguir mais vê-la. 
"Vovó, essa planta vai morrer, óh! Nem folha ela tem!" - Insisti. E lembro disso porque sentia pena da planta. Ninguém lhe dava muita atenção, não era um deleite aos olhos e as pessoas se acostumam só com o que é belo agora. 
"É uma roseira, Poliana, e ela não vai morrer, ela está brotando" -  Minha avó parecia estar muito certa do que dizia e isso me deu um certo alívio. E era uma roseira! Poderia dar flores algum dia e essa ideia me animou. Perguntei a minha avó qual a cor das rosas dela, mas ela nunca havia dado rosas. 
Daí em diante, passei a construir barreiras físicas para as formigas não atacarem a roseira. As vezes, deixava comida pra elas em outro lugar. E ainda que não tenha memória de tudo que aconteceu em seguida, me lembro de ter cuidado dela até ela ficar bem verde e cheia de folhas, como deveria ser.
Certo tempo depois, não sei quanto, voltei à casa da minha avó. Encontrei, bem no topo, como quem usava uma coroa, a primeira rosa daquela roseira. Era uma rosa solitária, ainda entreaberta, que me pareceu mais linda do que qualquer outra. E é claro que a partir daí a roseira passou a ser admirada por todos, o que me deixou com ciumes, mas feliz. Ela tinha conseguido, apesar de ser improvável, vencer todas as barreiras - e pragas - que tentavam enfraquecê-la. E, no final, se reergueu mais linda e mais forte do que nunca.
Perceba que a roseira, que naquela época era só uma roseira, hoje é pra mim uma lição. Assim como uma bela memória, aquela rosa mostra que há contratempos, mas é possível continuar lutando. E se a luta estiver drenando toda a tua força, lembre que não está sozinho, e que as vezes alguém aparece para tirar as formigas de perto. Tem sempre alguém torcendo para a sua vitória, mas no final, quem floresce é você!

P.S.: A rosa era vinho, escura, magnífica. Cor de sangue, aquele sangue que você tem que dar pra conseguir se manter de pé. A roseira da minha avó é a metáfora perfeita, e ela é real.