Minha primeira consulta com um psiquiatra foi aos 17 anos. A primeira vez em que pensei que o suicídio era a única solução pra acabar com o meu sofrimento aconteceu durante a minha infância, quando escrevi no meu diário que queria morrer, ainda não tinha 10 anos completos. Minha mãe achou esse diário mas não tinha como prever que esse era o meu problema mais íntimo se manifestando através das palavras inocentes de uma criança.
No decorrer dos anos eu me tornei uma adolescente emotiva e contida, que não contestava ninguém, detestava conflitos e chorava todos os dias, escondida no banheiro ou no quarto quando tinha certeza de que ninguém estava por perto. Eu fui obrigada a amadurecer antes do esperado, atropelando todas as fases da vida, vivendo como uma adulta responsável e preocupada desde muito muito cedo. Afinal, questões sobre o sentido da vida e porque você deve viver se deseja desesperadamente a morte mudam as perspectivas de uma pessoa.
Aos 19 me deram um diagnóstico, eu sofria de depressão maior porque era portadora de um transtorno de personalidade. Passei a conhecer mais antidepressivos que muitos farmacêuticos, ler mais sobre transtornos mentais do que desejava e nunca deixei de ser extremamente infeliz. Vazia. Miserável. Continuei chorando todos os dias.
Algumas vezes, a dor e desespero que eu sentia eram tão grandes que eu tentava me ferir pra ter algum alívio porque mentalmente eu era uma bagunça, perdida e desesperançada. Meus pulsos começaram a ter cicatrizes e cortes de épocas diferentes, com cores e tamanhos diferentes e aquilo não me incomodava. Eu estava sempre com blusas de frio, mesmo morando em uma cidade extremamente quente.
Os cortes eram uma forma de alívio temporário, não eram uma tentativa de acabar com a minha vida. Mas houveram sim tentativas de suicídio. Na época eu não tinha tanta informação e só por isso eu continuei viva: escolhia sempre o medicamento errado. Geralmente um benzodiazepinico. Algumas vezes, tomava doses tão extravagantes que ficava totalmente drogada, tinha rebaixamento de consciência e não conseguia lembrar o que tinha acontecido. Dormia por 15 horas seguidas, acordava chorando por ainda estar viva.
Viver nunca foi fácil. Eu pude encarar a morte várias vezes mas nunca soube lidar com a vida. Me pergunto se algum dia as coisas vão melhorar.
Mentalmente, continuo uma bagunça, ainda mais perdida que antes, mas acho que tenho esperanças, afinal hoje eu sei muito bem o que fazer caso queira acabar com a minha vida e, ainda assim, aqui estou.
sexta-feira, novembro 10, 2017
terça-feira, setembro 05, 2017
Strong and fearless
Tenho um recado pra você hoje. Cuidado com a depressão, ela é silenciosa. Ela vai destruindo tudo que você é e quando você percebe já não consegue mais lutar. Não consegue porque só quem está nessa batalha constante entende a destruição de estar em guerra contra os próprios demônios. Você é mais forte do que imagina e mais importante do que acredita. Repita isso até parecer verdade. Pelo menos, é isso que tenho feito.
domingo, setembro 03, 2017
So... sorry.
Eu deveria ter voltado antes. Aos primeiros sinais. Quando percebi que já não estava bem - se é que algum dia eu estive. Quando percebi que sair da cama era muito mais trabalhoso, que as atividades mais básicas pareciam impossíveis de se realizar. Deveria ter voltado porque, de todas as coisas que já fiz, essa era a única que não me feria. Eu precisava voltar. Eu deveria voltar. Escrever foi a maneira que encontrei de olhar pra todas as feridas e escoriações que carrego e, de alguma forma, suprimir esse sofrimento. As palavras sempre foram minha analgesia e eu tenho sido tola de pensar que nunca mais sentiria essa dor. Na verdade, eu sou a dor.
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