quinta-feira, setembro 19, 2013
Não espere.
Só depois de se sentir sozinho, ele apareceu. Só depois de se sentir esquecido, ele se fez lembrar. Só depois de perder uma amizade, ele tentou ser amigo. Só depois de sentir falta, ele foi buscar. Não espere.
quinta-feira, maio 30, 2013
Uma dor assim, pungente.
Eu nunca soube expor meus sentimentos. Abrir uma galeria e num punhado de pedras cinzas disformes, escrever: "Eis aqui o meu amor. Ou que ele é hoje, depois de alguém passar por aqui e incinerá-lo, desmontá-lo e depois abandoná-lo da janela do vigésimo terceiro andar". Amor não se conserta, não se repara, simplesmente não dá. Amor é o que é. Por isso mesmo não consigo sair por aí dando amostras do meu. Não só porque ele está todo torto, como porque é por demais doloroso se expor. Sair da sua casca, do seu abrigo. Sentimentos trazem fraqueza e força. O problema é que isso não depende só de você. Eu já me importei muito, com muitas pessoas, que hoje mal falam comigo. Eu não mais faço parte do conjunto de suas vidas. E isso dói. E continua a doer por muito tempo. E com o tempo você fica inseguro demais, e machucado demais, e vazio demais pra entregar amor pra alguém. Você fica egoísta porque é o seu amor e você quer tê-lo só pra você. Você quer cuidar daquilo que já foi por demais maltratado. E quanto mais maltratado foi o seu amor, mais maltratado você foi. Amor é o que é. E você é o amor que você dá.
Essas pessoas machucadas, cheias de cicatrizes, com certeza são, apesar da dor e do temor, as que mais sabem amar.
Debaixo de um viaduto.
Ela te derrubou. Logo em seguida, te obrigou a ficar de pé. É bem assim mesmo, no "vamos ver". Toda vez que ela te passa uma rasteira você pensa: "merda, a vida é injusta". Alguns dias depois você nem se lembra, você segue em frente porque, sabe, esse é o nosso laço, a nossa sina. Seguir em frente.
E sabe, eu concordo com você quando você pensa que a vida é injusta. Mas não porque ela te deu uma rasteira. A vida derruba todo mundo, meu caro, ela bagunça com a existência desde tempos remotos. A vida é injusta porque tem gente com fome, que não pode abrir a geladeira para procurar a refeição do meio dia, porque não teve refeição do meio dia, porque nem tem geladeira. E tem gente com sede, sabe, enquanto você se joga em uma piscina quando está calor. Tem gente com frio, frio e dor e esperança. E de tudo isso, eu acho que o mais dói é a esperança, meu caro, porque eles esperam um amanhã melhor. Um amanhã com comida, algo pra beber, cobertores, coberturas, um teto.
A esperança é o que mais me dói. Mantém todos eles, eu sei, mas me dói. Porque, cá pra nós, meu caro, eles tem esperança e isso é lindo. Feio mesmo é o fato de que você pode ter tudo, mas não parou pra pensar neles uma vez sequer esse mês. Ou esse ano. Quiçá, essa vida. A vida é injusta mas você pode mudar um pouco essa história. Tem gente por aí que 'não tem nada', mas dá um banho de dignidade, ensina o que é viver. Tem gente que com tão pouco, tem tudo. E você aí, né? Levanta, meu caro, e mostra pra vida que ela pode ser injusta, mas a gente pode fazer direito.
domingo, abril 28, 2013
Confissões de uma inexistente.
Eu não existo porque sou coletividade. Porque choro ao ver aquela senhora, toda suja, mas cheia de dignidade, sentada sob uma caixa de papelão com uma trouxa de roupas, igualmente sujas, às quais ela se agarra no frio da noite. Não existo porque quando avistei aquele senhor se desdobrando de frio, sob a cobertura de uma loja qualquer, abraçando as pernas como se isso afastasse o véu denso de temperatura que a noite derrubava, chorei. Chorei muito, por muito tempo. Mas nada além disso. Tudo o que fiz foi chorar. Fui mera plateia, observadora. Dignei-me apenas a chorar. E eu sei que poderia ter feito algo além disso.
Por isso sou inexistente. Porque respirar, comer, andar pelas ruas, ter sangue nas veias e amor no coração, nada disso define sua existência. Você existe a partir do momento em que sai da inércia. Em que deixa de ser espectador e passa a ser artista. Mas para isso, meu caro, para sair do lugar é preciso coragem. E coragem não se compra, não se aluga e não é item de quest. Um dia você vai, depois de tanto tempo sem existir, se você é um indivíduo digno, que se questiona e chora pelos cortes que não teve, um dia você vai descobrir de onde vem a coragem. E, adivinhe só? Ela vem de dentro.
Look inside.
quarta-feira, janeiro 02, 2013
Sunrise.
Me apaixonei pelos detalhes que se seguiam cegamente. Ontem, quando tudo não passava de um "sentir quase não sentir", hoje quando, dissipando-se as nuvens negras de um coração despedaçado, eu consigo assistir o nascer do sol. E brilhando ele me diz que ainda há esperança. Talvez não haja para mim, que a matei criminosa e violentamente. Mas ainda há esperança para o mundo. E se há esperança para o mundo, então que também haja para você.
Foi como adormecer, garoto. Você sempre me pareceu tão forte e equilibrado, enquanto eu era só fragilidade e lágrimas. Eu nunca teria te escolhido para nunca ter de te ver partir. E mantive aquela distância para que nunca tivéssemos de estar realmente longe. Você foi o sol nascendo. E quase conseguiu me convencer de que eu mereço algo. Alguém. Talvez você, talvez a sua esperança.
Foi exatamente como adormecer. Devagar... e então tudo de uma vez. Se me permitir confiar, não se permita desistir. É tudo ou nada e eu ainda não sei o que escolher. Sei que estive sonhando e nada dura para sempre. Um dia eu acordarei e poderei então dizer tudo aquilo que você quer ouvir. Ainda, e até. Depois de tanto tempo só espero ser feliz. Que você seja feliz.
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